26 maio 2006

Núcleo de Criação da Cufa registra lançamento do livro Elite da Tropa

por Joyce Santos

Parte da equipe do Núcleo de Criação da Cufa/ NCC esteve presente no lançamento do livro Elite da Tropa, na última terça-feira (23/05), na livraria Armazém Digital de Botafogo, para produção de um vídeo de divulgação do livro.

Foram registrados os depoimentos de personalidades como o ator Wagner Moura, o documentarista José Padilha e o deputado Carlos Minc (PT-RJ). O antropólogo Luiz Eduardo Soares e o ex-membro do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) Rodrigo Pimentel, autores do livro em conjunto com o capitão da Polícia Militar do Rio de Janeiro, André Batista, também falaram sobre a obra, que expõe os bastidores das ações do grupo de elite que, aos poucos, se transformou em um temido esquadrão da polícia carioca.

Lançado pela editora Objetiva, Elite da Tropa, que já ocupa as primeiras posições no ranking dos mais vendidos, mostra, pela primeira vez, no Brasil, o lado desconhecido do combate diário, nas grandes cidades, sob o ponto de vista do policial, com seus hábitos, medos e desafios.

A partir de experiências reais, os autores criaram uma ficção, onde fatos e cenários foram reescritos em parte ou no seu todo. Os lugares e pessoas têm nomes fictícios, para preservação das identidades. Tal estratégia foi a forma encontrada para tornar possível as descrições impressionantes sobre o cotidiano dos policiais de elite.

Na primeira parte, Elite da Tropa acompanha a rotina do policial ouvindo sua própria voz, seguindo seus passos, seu drama diário, que o leva a praticar a brutalidade extrema, por não se sentir regido pela legalidade constitucional, mas pelo imperativo da guerra. Na segunda, um dos personagens segue numa trama que envolve autoridades de segurança, traficantes, políticos e policiais, na articulação uma verdadeira rede de alianças improváveis.



Depois do trabalho, a equipe com Luiz Eduardo Soares.

24 maio 2006

ATIVIDADES DA CUFA/ CIDADE DE DEUS

Cia de Teatro da Cufa

A Cia de Teatro da Cufa surgiu há quatro anos, a partir da iniciativa de um grupo de moradores da Cidade de Deus, que já estudavam teatro, e decidiram se unir para montar um grupo teatral. Hoje, a companhia é formada por 15 atores, na faixa etária dos 14 aos 40 anos.

O grupo, que já participou de oficinas e aulas ministradas por profissionais com larga experiência teatral, como Guida Vianna, Débora Lamm, Lázaro Ramos e Cico Caseira, tem o teatro do Espaço Cultural Cidade de Deus como seu local permanente. Já houve apresentações em universidades como a PUC-Rio, a UFRJ e a UNI-Rio, bem como em praças públicas e festivais de teatro no interior do Estado.

Alguns dos espetáculos montados pela Cia de Teatro da Cufa foram: “A voz do excluído”, escrito pelo próprio grupo, “O Fragmento de Navio Negreiro”, que mesclava conteúdos de letras de músicas de vários estilos com trechos do poema de Castro Alves e “MK”, baseado em uma letra do rapper MV Bill. Já foram montados também dois textos de Lima Barreto, “Caso do Mendigo” e “Elogio à Morte”. As mais recentes produções foram a comédia social “Nóia da Paranóia”, dirigida por Cico Caseira, e “Papo Calcinha”, dirigida por Anderson Quak, que abordava temas do universo da adolescência relativos à educação sexual, gravidez e prevenção contra DSTs.

Um dos momentos marcantes da história da Cia de Teatro da Cufa aconteceu com o espetáculo “Não Adianta Falar”, apresentado em protesto pela morte de um morador, vítima de bala perdida, em 2003. Ao final do espetáculo, o público, de mais de cinco mil pessoas, que lotava a praça principal da Cidade de Deus, formou um imenso coro para cantar o Hino Nacional. Outro acontecimento importante foi a apresentação no programa Criança Esperança, da Rede Globo de televisão, em São Paulo, no ano de 2004.

Para a Cia de Teatro da Cufa não há a obrigatoriedade de ligar a arte da favela aos temas da favela. O distanciamento completo não é possível, nem desejado, já que abordar o cotidiano do tráfico, das desigualdades e etc, se faz extremamente importante, mas os temas não devem ser exclusivamente estes.

“Rompendo preconceitos, a Cia de Teatro da Cufa busca que o artista da favela não seja visto como um artista de favela, mas sim como um artista”.

(Anderson Quak, fundador e diretor da Cia de Teatro da Cufa)


Viviane Siqueira e Rafaela Baia, no espetáculo "Nóia da Paranóia", 2005.
Oficina de Teatro



No auditório do Espaço Cultural Cidade de Deus acontecem aulas de teatro, todas as quintas-feiras, com a atriz e professora Rafaela Baia. Atualmente, a atividade conta com a participação de 30 crianças, na faixa de 7 a 13 anos, dividas em três turmas.

Nas aulas, são trabalhados exercícios individuais e em grupo, com a utilização de técnicas de desinibição e improvisação, sob a abordagem de diversos temas. Os alunos realizam ainda exercícios de expressão vocal e corporal, bem como a montagem de cenas, com temas pré-determinados e esquetes de temas livre. O objetivo é extrair a criatividade e a espontaneidade, além de trabalhar a capacidade de concentração do aluno, o que gera reflexos positivos em seu próprio aproveitamento escolar. A dinâmica teatral adotada tem ainda a importância de proporcionar o autoconhecimento, trabalhando a partir do exterior, o corpo, para atingir a expressão interior de cada aluno.

O programa das aulas tem como base a utilização de jogos teatrais, seguindo a pesquisa de diferentes escolas cênicas, Viola Spolim, Augusto Boal, Grupo Teatro de Anônimo, proporcionando ao aluno contato com técnicas elementares para a formação de ator, e tendo como princípio a concepção de que todos são capazes de atuar e aprender através do exercício constante do fazer teatral.

A oficina já dá seus frutos

É freqüente a participação dos alunos em testes de seleção para comerciais, filmes e programas de TV. Este ano, a aluna Sheila Regina, de nove anos, foi selecionada, dentre crianças de vários estados, para o comercial da Fiat, veiculado em emissoras de todo país, tanto da TV aberta, quanto de canais por assinatura. Outros dois alunos, Vinícius Santos, de nove anos e Alessandro Nascimento, de 12, participaram de testes para o filme Cidade dos Homens. Alessandro foi um dos selecionados. Assim, o projeto de teatro da CUFA/CDD além de tornar a arte parte da vida das crianças, busca também propiciar oportunidades de reconhecimento e crescimento dentro da carreira.


Com a experiência de quatro anos nos palcos, a jovem atriz Rafaela Baia, de 21 anos, além de atuar, já dirigiu diversas produções teatrais. Foi aluna do tradicional curso de teatro Tablado, onde participou da montagem do espetáculo “A última peça do inferno”. No ano de 2003, coordenou o projeto “Um sábado e tanto”, no qual se realizavam oficinas de contadores de história e de teatro, entre outras atividades. Em 2004, protagonizou a apresentação da Cia de Teatro da Cufa no programa Criança Esperança, da Rede Globo de televisão. A sua mais recente atuação foi no espetáculo “Nóia da Paranóia”, com direção de Cico Caseira, apresentado no Retiro dos Artistas.
Basquete



As aulas de Basquete de Rua da Cufa/CDD acontecem de segunda a sexta-feira, no horário da manhã e da tarde, numa quadra polivalente, situada ao lado do Espaço Cultural Cidade de Deus.

Além de receberem a iniciação esportiva no basquete, os alunos, que estão numa faixa de 7 a 25 anos, participam de atividades sócio-educativas, como mostra de filmes e a criação de murais sobre o cotidiano da favela.
Break



A Cufa/CDD realiza a oficina de break, estilo de dança característico do movimento hip hop, desde janeiro 2005, atendendo a 42 alunos, entre jovens e adultos. As aulas acontecem às terças-feiras, no turno da tarde e da noite. Visando à troca de experiências e, conseqüentemente, o aperfeiçoamento dos alunos, a oficina já recebeu jovens de grupos de break de diversas comunidades do Rio de Janeiro.

Com o esforço e dedicação dos alunos foi formado o grupo “Apologia Break”, que, dentre as suas apresentações, realizou a abertura do show Conexões Urbanas, em setembro de 2005, a convite do rapper MV Bill, e marcou presença no palco do Hutúz, o maior festival de hip hop da América Latina, abrindo o show da rapper Nega Gizza.
Informática

Através de aulas de informática e do telecentro, instalado no Espaço Cultural Cidade de Deus, a Cufa/CDD realiza um programa de inclusão digital e capacitação para o mercado de trabalho entre os moradores da Cidade de Deus.

As aulas, ministradas pela instrutora Flávia Campos, ocorrem cinco vezes por semana, tendo a duração de duas horas cada. Os 50 alunos se dividem em oito turmas, de acordo com a faixa etária correspondente: crianças (de 7 a 12 anos), adolescentes (de 13 a 18 anos) e adultos (a partir de 19 anos). É utilizado o sistema operacional Linux e o planejamento do curso se divide nos módulos básico, intermediário e avançado.

O telecentro conta com quatro computadores, nos quais usuários podem, dentre outras ferramentas, ter acesso à internet. O funcionamento é de segunda a sexta-feira, de 9 às 17h e aos sábados, de 9 às 12h. Os usuários fazem um cadastro, apresentando somente endereço e telefone para contato, e agendam o horário de uso. O tempo de permanência de cada sessão é de 30 minutos.
Grafite


O Grafite é uma das artes que representa o que há de mais contemporâneo. Surgida nas ruas, hoje, em constante expansão, já é considerada uma das mais fortes tendências de decoração. Assim, com o crescente interesse despertado pela arte do spray em crianças e jovens, a Oficina de Grafite da Cufa/CDD, tem, hoje, 60 alunos, divididos em turmas de acordo com as faixas etárias.

Na oficina, que acontece às segundas e quartas-feiras, os alunos produzem telas e painéis e transformam muros em verdadeiras galerias de arte ao ar livre. Além de estimular a criatividade, os trabalhos apresentam um importante caráter de interação com a comunidade. Em 2005, foi montada a exposição Do outro lado da favela, que reunia trabalhos de alunos do curso. Essa mostra inaugurou a agência da Caixa Econômica Federal, na Taquara, e percorreu diversas escolas da Cidade de Deus, dentre as quais as Escolas Municipais Alberto Rangel, Augusto Magno e Leila Barcellos.

Além disso, as telas e painéis produzidos pelos alunos decoram o Espaço Cultural Cidade de Deus e, num projeto de multidisciplinaridade proposto pela instituição, são utilizados como cenários para os espetáculos teatrais realizados pela Cia de Teatro da Cufa.

Alexandre Ferreira de Almeida é o instrutor da oficina e vem trabalhando com a arte do grafite há cinco anos. Já participou de projetos como o da Guarda Comunitária do SENASP, que levava o grafite para as comunidades, e o Risco sem Rabisco, da UERJ.

CUFA - Central Única das Favelas



Textos

Joyce Santos e Patrícia Braga


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Núcleo de Criação da Cufa/NCC